segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Os céus e a terra

Bede Griffiths, em seu livro "Return to the Centre", afirma que "o céu que se estende imenso acima de sua cabeça, seu espaço infinito e sua constância são um testemunho de eternidade, enquanto todas as coisas lá embaixo estão mudando."

É interessante notar que Aristóteles mantém uma divisão ontológica entre o mundo supralunar e o mundo sublunar. Tal divisão se encontra no cerne de uma estrutura hierárquica que permite a idéia de um Cosmos organizado com lugares naturais e, portanto, inteligível.

Um dos feitos da revolução científica galilelaica do século XVII foi justamente abolir essa diferença ontológica entre os céus e a terra. As leis do supralunar não são essencialmente diversas daquelas do sublunar. O plano geométrico-matemático nivela tudo.

Simbolicamente o feito é enorme. Os céus, o divino, se alcançam por meios terrestres e humanos. Há como uma imanentização do divino feita por meios matemáticos. O livro da Natureza escrito em caracteres matemáticos fornece ao homem a chave para alcançar o divino e este não é diferente do humano senão na capacidade infinita de seguir todas as consequências matemáticas de todos os postulados como afirmou Galileu.

Se as leis dos céus foram trazidas à terra, por qual razão não seria também o Reino de Deus? O que poderia impedir uma nova imanentização do divino, agora política e social? O homem não poderia também ser capaz de encontrar a chave do seu destino histórico e, planejando de acordo com este conhecimento, trazer ao mundo o reino da felicidade perpétua?

Entretanto, toda imanentização do divino é sempre o divino nivelado, por força, ao humano. Este permanece o mesmo, embora com a ilusão de haver abarcado aquele.

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