sábado, 3 de maio de 2008

Berdiaev, Liberdade e Bem Absoluto


Visão de Deus - William Blake


Berdiaeff afirma que o bem não pode ser imposto de fora para o homem, mas sim acolhido num ato de vontade livre que pressupõe inclusive a possibilidade da renúncia ao bem e a escolha destruidora do mal. É por querer ser escolhido livremente e não por imposição que, segundo Berdiaeff, Deus cria o homem livre. E é por isso que Deus não cria um mundo perfeito como gostaria Ivan Karamazov.


Mas Berdiaeff está enganado. Embora esteja certo em negar que o bem deva ser imposto, uma distinção importante lhe escapa. No mundo é difícil distinguir e conhecer o que é bom. Nem aquele que pretende impor o bem nem aquele a quem o bem é imposto podem ter certeza do caráter de bondade daquilo que é oferecido.


Entretanto, Deus não se impõe. Deus é reconhecido. Reconhece-se nele o ente absoluto e a fonte de tudo e, por conseguinte, o bem absoluto. Não há liberdade aqui simplesmente porque ela não é necessária. Não há escolha possível , pois Deus é, como dizia Abelardo, "onde os desejos serão satisfeitos antes mesmo de serem concebidos e a satisfação não será menor que o desejo".


A idéia de Berdiaeff de que Deus não quer se impor ao homem se torna insustentável uma vez que o bem absoluto não se impõe, mas é irresistivelmente reconhecido como tal. Uma vez diante Dele nada há que escolher.

Assim, é perfeitamente claro que Deus poderia criar os homens com plena e completa comunhão com Ele sem absolutamente nenhum prejuízo para a dignidade dos mesmos.